quinta-feira, dezembro 16, 2010

O Embaixador da Cultura


Carlos Pinto Coelho deixou-nos. Fiquei chocado, não queria acreditar que personalidades como esta, um dia iriam deixar-nos. E que perda… A cultura portuguesa ficou irremediavelmente mais pobre. Conheci-o quando assistia ao inigualável magazine cultural “acontece”. Interagia com profissionalismo, mas sobretudo com autenticidade; a sua bonomia permitia que entrasse na nossa casa sem ser intrometido. A cultura, em vez de enfadonha, era um deleite para a vista, um alimento para a alma. Ele um dia teve esta afirmação genial: A cultura é aquilo que permanece no homem quando ele já esqueceu tudo o resto. Quando dava por mim, estava embevecido, agarrado ao programa e ao formato que o jornalista criou, coordenou e apresentou com mestria e que marcou indelevelmente a cultura portuguesa de uma década. Entretanto, foi-se envolvendo em múltiplos projectos, uns acompanhei, outros, certamente frui sem saber que por detrás da sua génese, havia uma mão de Carlos Pinto Coelho. Este homem tinha uma capacidade invulgar de interpretar a cultura, o mundo, sobretudo a vida nas suas múltiplas facetas e vicissitudes. Era genuíno, autêntico, de uma inteligência que se sobrepunha à própria inteligência. Aliava a essa autenticidade, uma bonomia que não se cansava de irradiar, que brotava naturalmente da sua essência. Era um jornalista que, no exercício da sua actividade, fazia-me sonhar com o jornalismo para tê-lo como referência. Nestes tempos, em que a memória sofre ablações constantes, não podia deixar de prestar este modesto tributo a este homem, porque fazendo-o, presto tributo à cultura que, no nosso país, está moribunda. Citei a expressão memória intencionalmente, porque sem memória não há cultura, e uma sociedade sem cultura é uma sociedade pobre, vazia, com o futuro comprometido. O “acontece” terminou por, politicamente, considerar-se o seu custo elevado. É assim que vai o país. Com Carlos Pinto Coelho, a cultura acontecia. Estou imensamente grato pelo serviço que nos prestou, arriscava a dizer que não merecemos pessoas assim. Ele era um predestinado. Depois deste legado, fica a memória, a cultura… o melhor tributo que lhe podemos prestar é cultivando-nos. E assim acontece…

3 Comments:

At 6:48 da tarde, Blogger deep said...

As pessoas que admiramos parecem-nos sempre intocáveis e imortais, por isso ficamos mais sentidos e chocados quando partem. Compreendo e partilho o teu sentimento.

Passo também para te desejar um ano de 2011 Muito Feliz, pleno em realizações pessoais e profissionais. :)

 
At 12:09 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Até que enfim volta a escrever no seu blogue...

 
At 5:41 da tarde, Blogger tb said...

Pois é meu querido Duarte. Todos ficámos um bocadinho mais pobres...
ele ia gostar de ler esta tua sentida e bela homenagem.
beijinhos

 

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