sexta-feira, maio 04, 2007

Abril de Revolução


Não obstante a distância, o tempo não esbate o significado de Abril nem as conquistas que estiveram subjacentes à sua prossecução. Ainda ontem comemorou-se o dia mundial da liberdade de expressão, um dos desígnios de Abril que, ao invés das expectáveis profecias de então, prenunciadoras de um respeito crescente e irredutível desta causa, vêm agora revelar que os retrocessos nesta liberdade são uma realidade atroz, e assumem mesmo contornos preocupantes numa Europa dita democrática. Consequentemente, continuo a reviver Abril com a mesma emoção, sinto-o hoje tão perto, pela urgência com que se apela a uma réplica da revolução, para que não se esqueçam valores basilares da democracia, episodicamente esquecidos e violados.
A opressão aos dissidentes de hoje é efectivada de modo mais camuflado, umas vezes por afastamento compulsivo e orquestrado de uma carreira profissional ou manifestando-se em pressões que marginalizam e amedrontam ante os cenários humilhantes que os ardilosos maquinam para dissuadir os contestatários e oponentes ao populismo (forma ilegítima de democracia) de levar avante ideais de Abril. Existem formas subtis e viperinas de exercer chantagem, de utilizar sofismas hábeis que tolhem a autodeterminação de um indivíduo.
Pela passividade intelectual do povo, Abril vai sendo esquecido, negligenciado por gentes que se preocupam mais com as cenas da próxima intriga novelesca da televisão, ou as incidências de um reality show, atentatório da boa sanidade mental; com a indumentária da colega, ou as incursões da vizinha nas suas intrigantes hospitalidades masculinas. Todavia, a liberdade permite-nos optar entre a aceitação deste lixo mental, vigente na sociedade, ou um renunciar à imbecilização que se pode revelar pela apetência pelo conhecimento, por uma forma lúcida e determinada de contribuir para uma reflexão cívica, de aprimorado sentido crítico.
Abril ainda se me inunda de fragrância floral dos cravos, insuflando-me de coragem para expurgar a repressão, as injustiças, a mordaça que aludi e que obsta a que nos exprimamos livremente. Abril continuará a relembrar a revolução pacífica, onde as armas expelem flores, mas este ideal de liberdade, este fito cada vez mais utópico, caminha trôpego, definha em cada náusea de um político, no oco apelo à seriedade de um qualquer governante amoral, isto para não citar a demência, porque essa, merece um sentimento de complacência, e uma advertência a quem, na obscuridade mentecapta, confunde-a como luta acutilante por direitos e justiça, na estratégica e despudorada criação de um inimigo no exterior que está na iminência de atacar, para unir as hostes que o rodeiam. Até quando é que vamos permanecer neste marasmo?
Emociono-me com Abril, longe, onde estiver, mas indubitavelmente, carecemos de uma nova revolução. Outra! Não se pode progredir num país onde se premeia a fidelização incondicional a sistemas de ascensão fácil, ao invés da verdadeira competência e assunção plural e profícua de ideias. As assimetrias sociais são cada vez mais evidentes, obscenas. Para mim, é risível a postura importante de gente que rasteja no lodo da ignorância, e que, por vassalagem a conveniências, são incapazes de ganhar o mínimo de percepção da sua ridícula e ignóbil promoção que os torna reféns de boçais indivíduos que dispõem deles a seu bel-prazer. Em que país vivemos? Vergonha? Isto é mais do que isso, é insultuoso. Reinvente-se a política em Portugal, por Abril, pelo espírito da Revolução, pelo futuro que teimo em acreditar, harmonioso e próspero.
Viva o 25 de Abril! Sempre!

2 Comments:

At 9:33 da tarde, Blogger tb said...

e há as forças que se vão movimentando pela calada da noite para afogar o grito da revolta de um povo que soube o que era liberdade, mas que depressa a perdeu...
Ao teu nível, o texto :)
Beijinhos

 
At 6:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A motivação para a escrita está a falhar? Ai, Vamos, força!

 

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