Ilha da Desventura
Que mal te fizeram, Ilha?
Quem te varreu a harmonia?
O basalto enlutado
Assoma de negro na noite
No medo desvairado
De um acordar irrompido
Por guindastes e ecos metálicos
Caprichos de ideias loucas
Oh mar! Socorre este demente…
Salva a ilha enquanto é tempo.
Perfuraram tuas entranhas…
Num desdém impiedoso,
Espalharam o teu sangue na tua calvície…
Escorrendo-te pela face
Veios de mágoa e imundície…
Quem te trespassou o corpo?
Em cilícios que se cravam nas tuas encostas
Para por ti passarem
Vilipendiados circuitos comodistas,
Subjugados ao fácil
Déspota usurpação da tua forma.
Quem te transfigurou a face?
Cataplasmas de betão
Remendam a tua alma
E teus habitantes sorvem aturdidos
Arengas saloias,
Gritos e insultos esbaforidos.
Quem te conspurcou o calhau?
Os roliços seixos que amainavam as ondas?
Soterrados na lama de cimento
Nas vigas de ferro lancinantes
Perversa forma de enganar
A maresia pura, do mar oriunda.
Quem te amaldiçoou?
Que esconjuro, maldito!
Por pérola te tratavam…
E, eis-te, no Atlântico,
Imersa de mar, possuída pela agonia.
Foto e poema: Duarte Olim
5 Comments:
Olá Duarte!
Há um nome para colocar em cima do teu poema, assim com nos tempos da censura: progresso. Em nome do progresso perde-se a pureza original, mas hoje em dia, a pureza original tem pouco peso de argumentação.
Para mim foi um dos trabalhos mais bonitos que fizeste.
Um beijinho
Gostei de ler.
Beijinhos.
sentei-me hoje para te ler, encontrei-me perdida no meio das tuas emoções, onde o escrever para ti desliza entre emoções, fiquei rendida à beleza da tua escrita e dos teus poemas
tenho que te acompanhar mais assiduamente pela beleza que aqui encontrei
beijinhos muitos para ti Duarte e parabéns
lena
São as ganâncias cegas a que chamam enganadoramente progresso...
Lindo, Duarte, forte, intenso e verdadeiramente nu e cru!
Obrigada pela visita e pelas tuas palavras amigas.
beijinho
Conheço a ilha de que falas, é a minha terra azul. Reconheço cada palavra que escreves. Reconheço a pertinência de todas. Mas falta qualquer coisa, ou melhor, há coisas a mais, talvez. Lembra-te da ternura e da brusquidão, cantam-se de forma simples. Mas é apenas a minha opinião e mais não vale do que isso. Um destes dias tentarei ser mais objectiva. Obrigada pela simpatia do comentário no Orfeu.
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