sábado, abril 23, 2011

Ergonomia Urbana

Aprendi que as cidades são, como o nome indica, para os cidadãos. Que política deriva da palavra grega “polis” que significa cidade, entendida como comunidade organizada. Por conseguinte, política é a ciência que deve estar na génese das cidades e da sua organização. Serve este prelúdio para possibilitar uma contextualização do que é a cidade de Barcelona de acordo com estes conceitos. A excelência de uma cidade, como a que tive a felicidade de visitar, deve-se, em grande parte à generosidade do seu espaço público. E se as cidades são corpos dinâmicos que se moldam às diferentes influências, à evolução dos seus cidadãos, ao seu crescimento e sempre sujeita ao aperfeiçoamento tecnológico e edificação de novas infra-estruturas, a qualidade de vida de uma metrópole desta envergadura deve-se à qualidade e, sobretudo, amplitude do seu espaço público, sendo servido por um sistema de mobilidade moderno e eficiente. A abundância de jardins, de parques, a existência uma rede de ciclovias bem delineada que estimula os seus habitantes a utilizar este meio como forma de mobilidade, é notável. Criar uma rede de pontos providos de bicicletas públicas, acessíveis aos seus cidadãos, com preços simbólicos que permitam que uma adesão a este meio seja fácil e possibilite, quase sem custos, que as mesmas sejam utilizadas para chegar ao trabalho e dele regressar, permitindo, noutros casos, que se aceda à estação de metro mais próximo, facilitando o regresso, retira tráfego automóvel, ruído, emissões e poluição sonora e do ar, permitindo ainda poupanças de grande monta no investimento rodoviário. Depois há uma poupança inestimável na saúde pública pelo incentivo dos cidadãos à prática de exercício físico. Bem ao contrário do que se vai fazendo nas nossas urbes, dando prioridade aos automóveis, justificando com falácias que, vias de comunicação são para os cidadãos e que valorizam a sua qualidade de vida. Nada mais errado! Depois, além destas condições, a proximidade do mar, da costa, pensada, não apenas para as marinas e para o porto, mas também para a população, mantendo praias livres, abertas, amplas, a paredes-meias com a cidade, é admirável. Por todas estas razões, Barcelona é um encanto, tem um espaço público que lhe confere um lugar entre as cidades mais bem delineadas que conheci. Não admira pois, que cidadãos a viverem numa cidade destas características, com esta ergonomia, se sintam motivados a sair de casa, a praticar actividades desportivas e a privilegiar o convívio social. A excelência na mobilidade possibilita o deleite com a oferta cultural e, por sua vez, enriquece e dota os seus habitantes de ferramentas para fazer face a este mundo global cada vez mais competitivo e dualista.
Por fim, não podia deixar passar despercebido o comércio tradicional que, nesta cidade se adaptou aos tempos. É moderno, ainda promove a interacção entre o comerciante e o cliente, promovendo empatias sociais que tornam o quotidiano mais amigável e cada lojinha é um mini-museu, pensado ao pormenor, um regalo que muitas vezes nos deixa especados à entrada, sejam antiquários, galerias e nalguns casos bares decorados com arte, reproduzida em candeeiros, vitrais, pinturas e outras peças de arte de embevecer. Não obstante tudo o que uma cidade oferece de interesse, a montanha mais alta, sobranceira a Barcelona, denominada de Tibidabo, fez-me avistar outros cenários bucólicos, deles sendo refrescado por uma aragem campestre. É no encalço desses lugares que me movo, sei que é neles que a poesia encontra a sua cadência, longe da pressa assustada das urbes, que nessa agitação, parecem querer antecipar o fim.