quarta-feira, setembro 14, 2005

Cadência do Silêncio


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Na face,
Saboreio uma leve brisa.
No tecto do mundo,
Escuto por entre o azul, o fervilhante esvoaçar dos insectos.
Do infinito,
Oiço o arfar do Universo,
Constante, cadenciado…
A melodia do silêncio, inaudível no alvoroço.

Dos campos,
O vento sibila no feno,
E mistura-se entre os silvos que irrompem dos beirais.
A passarada chilreia,
E o adejar de um corvo preto, agoira a manhã.
A folhagem agitada da figueira,
Rumoreja violentamente.
Ruge um trovão!
Arrepio.

No chão,
Salpicam as primeiras gotas,
E da água pigmentada no solo seco,
Adensa um manto brilhante, molhado…
Oiço gotejar,
Os meus passos avançam sobre a erva,
E nos meus pés, sinto o refresco do sereno sobejado da noite.
O vento zune nas colinas,
Permeado pelo ladrar frenético dos cães.
Entro. Fecho a porta.
Despeço-me do silêncio.

Poema e foto: Duarte Olim

9 Comments:

At 9:43 da manhã, Blogger luadepedra said...

Parabéns Duarte,

Aqui tens uma verdadeira cascata de sentimentos plenos, a beirar a sensibilidade inexplicável.

1 Bj*
Luísa

 
At 1:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Duarte,

Adoro a forma como consegues fazer transbordar os teus sentimentos através das palavras... Isso acontece neste poema duma forma muito envolvente.
Por momentos dei por mim atenta ao arfar cadenciado do Universo... e soube tão bem!!! :)

Um beijo ;)

 
At 10:16 da tarde, Blogger clarinda said...

Olá Duarte,

Muito sensitivo. Passa aqui o que vês, o que ouves, o que sentes.Tudo numa espécie de roteiro
de um passeio matinal.

Gostei muito.

Um beijinho

 
At 12:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

As tuas palavras, musas silenciosas de olhar enredado no infinito horizonte dos sentimentos que calamos, fazem-me sentir uma força interior que às vezes julgo adormecida. A nostalgia que se desprende das sílabas e se estende ao longo do poema, mostra-nos como é possível dosear sensibilidade e imaginação de forma adequada sem maneirismos exagerados. PARABÉNS!

 
At 6:51 da tarde, Blogger Estrela do mar said...

...como gostava de escrever assim...que lindo poema e linda foto Duarte...adorei...

Beijinhos e tem um bfs.

 
At 4:20 da tarde, Blogger Madeira Inside said...

Olá!!
Que poema lindíssimo!!!
Adorei como acaba : "Entro. Fecho a porta.
Despeço-me do silêncio."

Bjs p ti!! :)

 
At 2:07 da manhã, Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Duarte

Com que então vieste até aos meus sitios! Mafra é muito simpática...

As aves de sal
os barcos de areia
equidistantes
no dorso das mãos

a amanhã acontece
como uma palavra absoluta
no silêncio...


Lindo e absoluto o teu poema!

Um beijo

 
At 4:35 da manhã, Blogger DT said...

Ainda nem tem uma semana que sobrevoei essa paisagem (ruao à distância de uns meses) e já a saudade aperta.
Como sinto falta da cadência do silêncio que tão bem descreves.
Haverá algo mais precioso?

 
At 10:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Cadência… Uma palavra de saudade para mim!
A expressão de um sentimento expresso num abraço sustido.
A viagem ao mundo do silêncio pela sua mão. Calma, forte e segura!
Excelente!

 

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