Cadência do Silêncio
Na face,
Saboreio uma leve brisa.
No tecto do mundo,
Escuto por entre o azul, o fervilhante esvoaçar dos insectos.
Do infinito,
Oiço o arfar do Universo,
Constante, cadenciado…
A melodia do silêncio, inaudível no alvoroço.
Dos campos,
O vento sibila no feno,
E mistura-se entre os silvos que irrompem dos beirais.
A passarada chilreia,
E o adejar de um corvo preto, agoira a manhã.
A folhagem agitada da figueira,
Rumoreja violentamente.
Ruge um trovão!
Arrepio.
No chão,
Salpicam as primeiras gotas,
E da água pigmentada no solo seco,
Adensa um manto brilhante, molhado…
Oiço gotejar,
Os meus passos avançam sobre a erva,
E nos meus pés, sinto o refresco do sereno sobejado da noite.
O vento zune nas colinas,
Permeado pelo ladrar frenético dos cães.
Entro. Fecho a porta.
Despeço-me do silêncio.
Poema e foto: Duarte Olim
9 Comments:
Parabéns Duarte,
Aqui tens uma verdadeira cascata de sentimentos plenos, a beirar a sensibilidade inexplicável.
1 Bj*
Luísa
Duarte,
Adoro a forma como consegues fazer transbordar os teus sentimentos através das palavras... Isso acontece neste poema duma forma muito envolvente.
Por momentos dei por mim atenta ao arfar cadenciado do Universo... e soube tão bem!!! :)
Um beijo ;)
Olá Duarte,
Muito sensitivo. Passa aqui o que vês, o que ouves, o que sentes.Tudo numa espécie de roteiro
de um passeio matinal.
Gostei muito.
Um beijinho
As tuas palavras, musas silenciosas de olhar enredado no infinito horizonte dos sentimentos que calamos, fazem-me sentir uma força interior que às vezes julgo adormecida. A nostalgia que se desprende das sílabas e se estende ao longo do poema, mostra-nos como é possível dosear sensibilidade e imaginação de forma adequada sem maneirismos exagerados. PARABÉNS!
...como gostava de escrever assim...que lindo poema e linda foto Duarte...adorei...
Beijinhos e tem um bfs.
Olá!!
Que poema lindíssimo!!!
Adorei como acaba : "Entro. Fecho a porta.
Despeço-me do silêncio."
Bjs p ti!! :)
Olá Duarte
Com que então vieste até aos meus sitios! Mafra é muito simpática...
As aves de sal
os barcos de areia
equidistantes
no dorso das mãos
a amanhã acontece
como uma palavra absoluta
no silêncio...
Lindo e absoluto o teu poema!
Um beijo
Ainda nem tem uma semana que sobrevoei essa paisagem (ruao à distância de uns meses) e já a saudade aperta.
Como sinto falta da cadência do silêncio que tão bem descreves.
Haverá algo mais precioso?
Cadência… Uma palavra de saudade para mim!
A expressão de um sentimento expresso num abraço sustido.
A viagem ao mundo do silêncio pela sua mão. Calma, forte e segura!
Excelente!
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