quarta-feira, abril 09, 2008

A Revolta


É risível a forma como a natureza manifesta a sua rebeldia e desbarata a lógica da vileza humana. Não me regozijo com os efeitos fatídicos por ela provocados na exacerbação dos seus devaneios, nem tão-pouco almejo identificar um bode expiatório para as calamidades. Normalmente culpabilizo em sentido genérico a sociedade, o défice de civismo, não me coibindo de atribuir responsabilidade crescente às hierarquias detentoras das decisões. Co-responsabilizo individualmente cada um com os seus actos. Não obstante, não deixo de expressar deferência e uma cordial anuência à harmonia reclamada pela natureza. Creio mesmo que ela representa o arauto de outras demandas. Quando nos empenhamos em estrangular, macular, destruir e castrar a essência que caracteriza o autêntico e o belo, numa gargalhada insurrecta do Cosmos assistimos incrédulos à redução da imponência boçal do betão, ao nada. Compreendo a mãe natureza, solidarizo-me com a sua rebelião e apelo a que avisos desta monta não sejam relegados para um torpe esquecimento. Que se inscrevam estes alertas na mente e na memória colectiva condicionando opções futuras onde deve imperar a harmonia através da conjugação equilibrada entre a natureza e a técnica.
Por norma, é incontestável que a destruição perpetrada por forças da natureza aflige com maior significado as linhas simétricas de traço fácil e de construção desproporcionada, poupando as que obedecem a uma lógica integradora da harmonia que continua a urgir. A indómita raiva de uma intempérie recai sobre o disforme e abala os alicerces da ganância, resultando em cenários funestos de fealdade bélica. Com custos bem avultados que negligentemente nos abstêm. Em oposição, os danos de uma tempestade sobre o natural, molda, enforma, lapida e estiliza o autêntico em todo o seu esplendor. A mim, parece que à falta de sublevação pela natureza, existe um justiceiro implacável, um aliado inexpugnável.

5 Comments:

At 1:12 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Como sempre a culpa nesta terra morre solteira.
Pelos vistos contiuas um Sonhador.

 
At 5:58 da tarde, Blogger Carla said...

Liberdade e responsabilidade são indissociáveis. Assim, aquele que se apresenta como ser livre é também responsável pelos seus actos. Não obstante, e infelizmente, parece que muitas vezes a responsabilidade é apenas vista na óptica da lei, esquecendo o Homem que a sua responsabilidade é também ética e moral.

 
At 11:36 da manhã, Blogger José Leite said...

É grave a irresponsabilidade de quem se demite de ser responsável...

 
At 8:05 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Se a natureza é harmoniosa em tudo o que cria, por que não aceitar a coerência da sua fúria?

Boa semana. :)

 
At 4:45 da tarde, Blogger tb said...

Há leis assim...que se dão ao respeito!
Gosto sempre dos teus textos!
beijo

 

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