Abandono
De costas para a vida,
Os sonhos crepusculares definham,
Apagam-se os holofotes do palco,
As metas capitulam,
Despovoa a plateia,
Numa escarninha gargalhada,
Reboa, distante, a orquestra nos camarins,
Baixinho…
A fealdade dos anos, cumulada nestes veios faciais,
Contrasta com a beleza alvorada,
E, o cheiro acre do âmago,
Mortifica,
Constrange os movimentos que eram destros outrora,
Agora lânguidos, inábeis,
Pesados pelo marasmo,
Desta sentença inopinada,
Da vida que cerra o pano do fim.
Vergado ao desdém do mundo,
Por etapas que a vida previu,
Desde o clarão da boémia,
Aos sons vibrantes das danças de salão,
De energia fulminante
Perturbadora dos que, no ocaso do mundo,
Viram corromper o acetinado da beleza,
E, na crueldade do pulsar do mundo,
Rugas, tremuras e debilidades,
Eram marcas tolhidas do destino,
Indeléveis, desaustinadas,
Sinais da precariedade de quem virou as costas à vida,
E sonha com a eternidade.
Foto e poema: Duarte Olim
13 Comments:
"...Apagam-se os holofotes do palco,
As metas capitulam,
Despovoa a plateia..."
Bom este seu trabalho!
Por momentos senti-me no limiar da primavera da vida.
As imagens que transmite neste seu poema são tão verdadeiras que, pela sua mão, caminhei ao longo de um horizonte a que todos, um dia, podemos ficar votados.
Senti no meu coração a profunda tristeza de um cântico rouco, outrora cristalino, liso, fluído. No meu coração uma música desafinada pelo som de melodias outrora tão desejadas… hoje tão esquecidas!
Mais um dos seus poemas que ascendem ao mundo à perfeição.
A perfeição de si Duarte.
Duarte, que bom tê-lo por aqui!
Beijos.
pois é, Duarte, vamos caminhando e nem damos pelo tempo. e as marcas da vida não perdoam...
beijo.
O abandono de quem vira as costas à vida!
Impressionante este poema!
Um beijo, Duarte.
Pois e que bem que sabe vir aqui beber cada uma das tuas lindas palavras ... passei da angústia para a suprema esperança enquanto as li ... senti muitas coisas diferentes ... suponho que é isso que a escrita deve incutir em nós, e aquilo que escreves tem esse dom.
Parabéns pela capacidade que tens de transmitires emoções.
Beijinho Encaracolado ~:o)
Amigo Duarte
Curiosamente também tenho um poema com este título, embora fale de um outro tipo de abandono.
Esta realidade cruza-se com todos nós diariamente, mas poucos têm a destreza de carregá-la em pensamento desta forma...
Belo poema!
Abraço
Um poema, um passeio pela memoria e sonho da primavera da vida. Gostei Duarte.
Abraço
Olá Duarte!!
Quantas vezes não costumamos estar de costas voltadas para a vida?? Abandonar os sonhos e as realidades!
Muito bom este teu texto!! Adorei!!
Beijinhos
Olá Duarte
Ete teu "Abandono" tem todas as emoções de alguém que olha para o espelho de costas.
Parabéns pela tua escrita :)
Beijinhos
Querido Duarte,
É notável, a capacidade que tens de transformar as palavras em estrelas. Reproduzem-se no céu do encantamento, a cada leitura.
Bem hajas!
1 Bj*
Luísa
Não tenho uma frequência assídua no blog, mas... caríssimo , de cada vez que por aqui passo , é impossivel não esboçar um sorriso de contentamento . Sinto-me a viajar pela intensidade das palavras, estás a cada dia mais exímio e esmerado.É na perseverança que reside a fortaleza do evoluir e do crescer...
não desistas...
beijo
Di...
Vim aqui novamente à procura de encontrar um novo trabalho seu. Beijinhos.
...a vida leva umas coisas e traz outras...grandioso, forte, real e vibrante, este poema! E aqui fica para a prosteridade.
Beijinhos
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