sábado, maio 28, 2005

Porto de Abrigo

Procuro-te na vastidão do mundo, encontro-te no sorriso de uma criança, busco-te no afago caloroso de dois anciãos amigos que, na velhice, espreitam o encerrar do pano. Procuro-te por azimutes incertos, galgo montanhas, faço imprecações ao céu que, inclemente, me riposta com a luz do seu astro, ofuscando-me o olhar. Meço o desfiladeiro que sulca a montanha dos meus sonhos, e na minha vertigem, deixo o meu fantasma obscuro resvalar até ao fundo. De lá, sibila o vento e sussurra-me o sonho, foragido, imperceptível e intrincado na penumbra do açoite. Liberto-te fantasma e inicio a travessia do desfiladeiro. Vou sem medo, destro, com a magia que aquela alma me inculcou no coração. Encontrei-te! Dou por mim levitando. No fundo do mundo, vacilo e a harmonia em meu redor ganha contornos periclitantes. Vocifero desassossego, mas, em desespero, lembro-te outra vez. És tu! Dirijo os meus pensamentos para ti e pouso no remanso do teu colo. O meu coração encontra a concavidade do teu braço que me acolhe. Olho de revés para a ravina, e, volvendo o olhar para a planície, espraio os meus sentidos. O mar resplandece, e por entre a bruma, distingo uma criança, correndo para mim, sorrindo-me. Estremeço! Sou eu, miúdo, que sigo no meu encalço. Retomo o caminho, desconcertado, estarrecido. Inclino-me para uma luz que raia lateralmente. Viro-me e ao meu lado segue, serena, uma mulher doce e bela. Ela observa-me, esboça um sorriso e olha em frente, como que a indicar o caminho. Ruborizo. Extasiado, prossigo com a coragem heróica, qual guerreiro de batalhas perdidas, injustas, revigorado pela ousadia corajosa de não querer voltar a perder. Pelo amor ausente.

12 Comments:

At 11:42 da manhã, Anonymous Anónimo said...

continua assim, continua com a euforia que invade a tua alma, para produzires tal texto.
Continua a seguir o espirito q te eleva a escrita, que te faz mover a mão para esse dom incrivel que so alguns possuem.

 
At 4:24 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Nao partas, nao deixes essa maneira de ecrever, pela qual tive ate agora a decifrar !

 
At 5:14 da tarde, Blogger Ana said...

Cada texto teu é um porto de abrigo onde gosto de me acolher.
Obrigada e um beijo para ti, Duarte.

 
At 9:17 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Duarte,

O que posso dizer perante este texto? Faltam-me as palavras... Está belo e é sem dúvida resultado de uma torrente de sentimentos que só as almas sublimes conseguem traduzir desta maneira.
Um beijo.

Rute G.

 
At 11:10 da tarde, Blogger clarinda said...

Duarte,
Não sei se andarás por estes lados do norte.
Seja como for , vim ler hoje o que escreveste. Lembras-me o D. Quixote, livro qu estou actualmente a ler. És um sonhador a sobrevoar o mundo e a colar-lhe os teus desejos. Bom exercício de escrita. É preciso mais.

Um beijinho

 
At 6:26 da tarde, Blogger Ana said...

Procuro-te na vastidão deste mundo desconhecido, para te agradecer as palavras que me deixaste.
Um beijo, Duarte.

 
At 10:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Duarte,

impressionante!
que pena que nao conheco o portugues bastante para compreender este texto melhor... gracas a ti, tenho mais ganas de estuda-lo!
(mas si isso ajuda para compreender a profundidade, nao sei..:-)

beijinhos!

Basia

 
At 2:24 da manhã, Blogger Estrela do mar said...

BOM FIM DE SEMANA prolongado! ____________888888____________ ____8888___88888888___8888____ ___888888_8888888888_888888___ ___888888888888888888888888___ ___888888888888888888888888___ ____8888888888888888888888____ _____88888888888888888888_____ _______8888888888888888_______ _________888888888888_________ ______________**______________ ____####______**______####__ ___#######____**____####### ____#######___**___#######_ ______######__**__######____ ________#####_**_#####_______ __________####**####__________
Um beijinho

 
At 6:33 da tarde, Blogger Ana said...

Tenho saudades de te ler.
Deixei-te um presente na encosta.
Beijinhos.

 
At 10:19 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Tens uns texto maravilhosos!!
Buscas a inspiração nas belas paisagens madeirenses?

 
At 3:25 da tarde, Blogger DT said...

Amigo Duarte,
Tenho estado ausente, mas sempre volto ao desfiladeiro.
Como poderia não voltar? As tuas palavras são um repasto para os sentidos.
Abraço

 
At 10:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A grandeza da palavra num texto de sentimentos tão próximos dos meus. Uma sensação muito próxima de estar perto de alguém conhecido. De um “velho e bom amigo”.
Magnífico!
Nunca comentei um Blog desta maneira!

 

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