sexta-feira, janeiro 06, 2006

Mar de Saudade



Tinge-se a atmosfera parda
Da serra caída no litoral costeiro,
Sorri na bruma do mar
Esbate-se o negrume, na silenciosa brisa
Da arriba da ilha
Húmida sensação, recôndita nostalgia.

Das ondas passadas,
Ponteiam as pedras no fundo…
Basaltos inesperados
Assomando sobre o manto marinho
Submersos ao acaso…
Indicando o destino?

Minha ânsia desmedida
Vê um mar imenso, de salpicos encruzilhados
De pedrinhas à tona na praia,
Replicadas na lonjura do horizonte
Caminho desamparado
É esse que procuro no íntimo.

Uma fuga?
Não! Um reencontro…
Saltitava sobre estas pedras,
Num equilíbrio circense louco
Para ousadia desta cruzada
Ou forma destemida
De atravessar este mar de uma passada.

Do lado de lá,
Sei-te algures presente
Invoco a minha fé,
Precária para andar sobre as águas
Epopeia bíblica, ensejo demente
Resta-me equilibrar nestas rochas…
E de salto em salto
Chegar até à lusitana costa.

Arrisco-me a esta façanha,
Ao invés destas saudades
Que me consomem na ilha
Num vagar cadente de mar,
Ondulação insistente
Retiro penoso, de esperança e assentimento.

Foto e poema: Duarte Olim

26 Comments:

At 9:56 da manhã, Blogger clarinda said...

Duarte,

A foto é lindíssima. É este outro lado dos lugares que eu gosto de conhecer.

Este poema é uma exortação à coragem da plenitude do momento.
No livro Vol de Nuit, Saint-Exupéry
coloca a personagem neste dilema e a personagem escolheu como tu, só que em vez de caminhar sobre as águas foi um voo sem fim.

Nem preciso de dizer mais nada.

Um beijinho

 
At 1:37 da tarde, Blogger Jorge Moreira said...

Olá Duarte,
Belo espaço que aqui tens!
Obrigado pela visita.
Grande Abraço,

 
At 11:39 da tarde, Blogger Cristiano Contreiras said...

Dos doces sentires vem o embalo da alma...

sentimento. quimera...

 
At 6:19 da tarde, Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Duarte

"Cheira" a maresia o teu poema.

Da montanha até ao mar
levando no bolso
pedaços de palavras
sentires...
coração que voa
até à conhecida porta
saudade...

Um beijo

 
At 12:24 da manhã, Blogger DT said...

Amigo Duarte

Diria que tu e a natureza são um só! Creio que, se pudesses, entrarias pelo mar e só pararias quando retornasses ao mesmo ponto de partida, após milhares de léguas em comunhão com as águas.
E talvez nem assim cessasse a tua jornada.

As constantes referências ao (cada vez mais escasso) etéreo intocado que nos rodeia, fazem das tuas palavras verdadeiros quadros bucólicos.

Li os restastes posts que me faltavam ler (Fortim, Aceno, Alma de Nada e Madrugada de Cristal) e aproveito desde já para congratular-te pela publicação do teu trabalho na revista. Será certamente um motivo de orgulho para ti, e é sem dúvida um motivo de grande satisfação para nós, os teus leitores.

Creio que o teu "Alma de Nada" será o que mais se afasta dos restantes (talvez também em parte por ser prosa), mas também nesta dificuldade em te encontrares, deixas-nos o mar como ponto final. Belo!

Abraço

 
At 12:41 da manhã, Blogger Ana said...

De saudade é o poema e a atmosfera cinzenta da foto.
De beleza e esperança o meu reencontro com as tuas palavras.
Um beijo, Duarte.

 
At 12:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Lembraste-me nestes últimos versos Camões.
Adorei!

A foto é lindíssima!
Beijinhos.

 
At 12:19 da manhã, Blogger musalia said...

sempre a saudade imensa de alguém, longe e perto, ao mesmo tempo. a ilha como refúgio, castelo, fortaleza. e o horizonte como lbertação da alma.

beijinhos.

 
At 11:53 da manhã, Blogger folhasdemim said...

Gostei da tua poesia.
Beijos, Betty :)

 
At 12:51 da manhã, Blogger Gabriel said...

Me apeteceu. Voltarei mais vezes. Já está nos meus favoritos!
Abraço

 
At 10:34 da tarde, Blogger JP Henriques said...

Primeira visita a este teu espaço, mas irei voltar, sem duvida.
Bom trabalho.

 
At 6:19 da tarde, Blogger BlueShell said...

Se o Mundo se acabasse hoje...quem quererias ter do teu lado?

BShell

 
At 3:17 da manhã, Blogger JP Henriques said...

Disse que voltava e cá estou, vim agradecer o visita e as palavras.
Vim à procura de novidades, mesmo sem as encontrar foi bom reler-te.

Um abraço

 
At 9:20 da tarde, Anonymous Anónimo said...

junto ao mar... um poema.
uma entrega :)

 
At 11:12 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Duarte, o continente aguarda o teu regresso, mas talvez seja melhor vires de avião! :)

Parabéns pelo blog, pelos textos e, sobretudo, pelo inegável talento!

Um grande abraço!

 
At 12:53 da manhã, Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Duarte

Aqui fica um beijo e um :)

 
At 9:45 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Querido Duarte,

Já tinha saudades de te ler. Passei para ver as novidades e para te deixar um beijo. :)

*** ****

 
At 7:37 da tarde, Blogger Unknown said...

Fascinante poema e excelente imagem tens um talento fora de série. Beijinhos e BFS

 
At 3:04 da tarde, Blogger Caracolinha said...

Pois ... o mar ... assim como as tuas palavras ... uma autêntica terapia ... :)

Beijinho encaracolado :)

 
At 3:55 da manhã, Blogger luadepedra said...

Querido Duarte,

Verso a verso deixas impresso um ritmo que marca o caminhar das letras em busca do sentido de suas vidas, antes mesmo de formarem palavras.

Bem hajas!

1 Bj*
Luísa

 
At 12:53 da tarde, Blogger Memória transparente said...

Mais um post 100% Duarte.
Destacarei,
"Do lado de lá,
Sei-te algures presente
Invoco a minha fé,
Precária para andar sobre as águas
Epopeia bíblica, ensejo demente
Resta-me equilibrar nestas rochas…
E de salto em salto..."
Bonito trabalho. Ficarei à espera de mais trabalhos. Beijinhos.

 
At 10:26 da manhã, Blogger Unknown said...

Estas imagens de mar deixam-me tão melancólica...

O poema é muito bonito...

Beijocasssss

 
At 11:06 da manhã, Anonymous Anónimo said...

É a minha primeira visita a este seu espaço e adorei!
Parabéns

 
At 5:11 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 5:11 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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At 5:11 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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